Sunday 3 October 2010

Brasil: à minha moda e o meu amor

Não sei se todo mundo que lê o que escrevo por aqui sabe que eu sou extremamente politizada. Leia o 'extremamente' em itálico, negrito, sublinhado e com fonte 54824704720736584 de tamanho. Pois é... Bastante não qualifica. Não falo a respeito disso por aqui porque, bom, é um blog de moda e eu não gosto de misturar as coisas. Sou fiel partidária do "religião, opção sexual, política, futebolística e gosto musical/de moda não se discute, se lamenta. De preferência sozinho". Acredito que cada um tem a sua percepção da realidade, o seu ambiente e as suas influências que a fizeram ser o que ela é e ajudaram a definir as suas crenças.

A minha percepção da realidade, o meu ambiente e as minhas influências me fizeram trabalhar com política por quase tudo o que posso considerar como "minha carreira". Política pública, que deixe claro. Não "fui" política, fui uma pessoa que auxiliava outros - políticos ou não - a ver o ponto de vista econômico de seus projetos. Eu amava o que fazia - tanto, que resolvi me dedicar a um mestrado em Políticas Públicas. A moda - meu outro amor e que sempre teve um teor mais de "diversão" na minha vida - só apareceu como possibilidade de trabalho depois que percebi algo extremamente importante.

Eu amo o Brasil. Demais da conta. O amo como poucas pessoas devem amá-lo; mas devo ressaltar que é uma relação de "amor e ódio". Quem me conhece sabe que de "brasileira" eu não tenho quase nada: meu humor é sarcástico e ácido demais pros padrões nacionais, definitivamente não gosto de praia. Assumo pra quem quiser ouvir que torço para países que acho que "merecem" a Copa, e não canto "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". Nunca. Não preciso comer feijão todo dia, nem arroz (aliás, me sinto melhor fisicamente falando, se não os como). Ando pelas ruas por aqui e brasileira é a última opção de quem tenta advinhar minha nacionalidade - não sei se por meus traços, se pela minha atitude, ou por uma combinação de ambos. Acho que, em 99.999999% dos casos, meus gostos pessoais não batem com o da média da população brasileira. Em moda, em música, em futebol, em religião e, bom, em política.

Sei que sou "a exceção da exceção da exceção" e, por isso mesmo, eu deveria ser uma daquelas pessoas que está 'mais que feliz' de estar longe do Brasil - o tal do "ódio" da relação, né? E admito: em certo ponto eu estou sim. Com pouco mais de seis anos de "estrangeira" na bagagem me acostumei a coisas que aqui são o "padrão" e que no Brasil deveriam ser e não são: andar na rua sozinha às 11 da noite sem se preocupar com nada, falar ao celular na rua onde quer que eu esteja, ter mais confiança nas pessoas em geral, assumir que a imensa maioria vai tentar - pelo menos - fazer a coisa certa. É bom viver assim, vocês não imaginam. Eu não prezava por essas coisas mas hoje em dia, ao visitar o Brasil, eu vejo como a diferença é enorme e gritante.


a vida é "gringa" mas o olhar...


Mas aí é que tá. Eu continuo amando o Brasil como poucas coisas na vida. Amando assim sem ter palavras pra definir. Ele é o meu país. Foi quem me deu minha percepção de realidade, o meu ambiente, as minhas influências, minhas crenças. Foi o Brasil que me fez ser o que sou hoje, a ver o mundo através dessa perspectiva - e a ele eu tenho que ser extremamente grata, todos os dias.

Ontem fiquei por horas conversando com um norueguês que se sentia extremamente frustrado com seu país porque percebeu que seus compatriotas, ao terem alcançado o nível em que estão e estarem em um patamar de primeiríssimo mundo, simplesmente se "deslocaram da realidade" e se tornaram "alheios aos problemas do mundo". Ele ficou por horas conversando comigo porque queria saber REALMENTE como era o Brasil, como era o dia-a-dia, se nós éramos como os outros Bric (Rússia, India e China). Eu disse que não. Que da minha perspectiva nós éramos facilmente os que mais tinham chance de cruzar para o patamar de 'desenvolvidos'. Que nós não tínhamos bolsões de pobreza de quilometragens monumentais como a China e Índia tem. Que nós tínhamos uma perspectiva muito mais "ocidentalizada" que a Rússia. Mas que, por outro lado, nós somos a nação mais abençoada do mundo, com a população mais carinhosa e amigável, as terras mais férteis que eu já vi, as belezas naturais mais lindas. E, como bons exemplos de quem "deita eternamente em berço esplêndido", não víamos tudo que tínhamos nas mãos.

Ele se emocionou e disse que seu pai havia trabalhado com a Petrobrás fazia alguns anos, e a minha descrição havia sido exatamente a mesma que ele havia dado do Brasil. Me desejou força; e disse que esperava que o Brasil fosse o exemplo de um novo estilo de país, um que conseguisse combinar as benesses de um "desenvolvido" sem as consequências maléficas do desprendimento com relação às outras pessoas, aos outros países. Me desejou isso porque sabia que hoje era dia das eleições - nossa conversa, aliás, surgiu exatamente por causa disso.

Por isso hoje decidi quebrar a promessa que havia feito a mim mesma: de não falar sobre política aqui. Pelo menos não diretamente e sem qualquer elo à moda. Eu amo DEMAIS o meu país, quero muito o bem dele e infelizmente não consegui me conter. Quero que ele seja realmente o que esse norueguês desejou - e muito mais. Quero igualdade de direitos e social em todos os aspectos. Quero democracia e liberdade. Quero que todos tenham exatamente as mesmas chances, não importando em que canto, buraco, arbusto longínquo ou cafofo tenha nascido. Que as pessoas tenham o direito de fazer suas escolhas, exercer seu livre-arbítrio. E, principalmente, que tenham que arcar com as consequências de suas escolhas.

Por isso peço a todos que leram até aqui que desejem o mesmo. Com muita força. A maior que consigam. Só isso já é algo - pensamento positivo. Porque nem isso eu tenho visto ultimamente no país, e me deixa muito triste. Peço também que votem conscientes do que estão fazendo - já sabendo que todos iremos arcar com as consequências desse nosso ato coletivo. E que, de longe ou perto, façamos o melhor para o nosso país.

3 comentários - Comente aqui!:

Deborah Prates said...

Que texto lindo, sincero e verdadeiro... Precisamos muito nos posicionar... A política ruim, com ações de mkt, maquiagem da cidade e do país vem se repetindo... A sensação de que a reeleição no Rio e no Pais é um fato, me angustia... Mas, vamos sim manter o pensamento positivo!! Bjokas.

Moda e Compras em Buenos Aires said...

Sinto exatamente o mesmo, obrigada por expressar...
Beijos
Dani

Anonymous said...

Isso é que é ser brasileira, muito linda, em uma folha expressar o que muitos sentem....
beijos
cristina

 
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