Monday, 24 October 2011

Um dia é da moda, o outro do poeta

Talvez não seja o que vocês estejam pensando... não mudei de rumo - apesar do constante sumiço daqui do blog. Na verdade, posso dizer até o oposto. Definitivamente descobri depois de hoje que, de artista, sou uma ótima economista.

Me explico: às segundas à tarde, mais precisamente de 4:30 às 6:30, eu tenho aula de Contextual Studies. Nome bonito pra algo que deveria significar "metodologias de pesquisa". Afinal, temos que entregar um texto de 4000 palavras com devido embasamento teórico e metodologia de pesquisa (aceita pelo meio acadêmico, devo adicionar) ao final dessa parte do curso, e pra isso, precisamos saber o #comofas, certo?

ERRADO. Porque, hoje, a aula que deveria falar sobre metodologias de pesquisa voltadas para a História da Moda (tema do dia) teve 40 minutos de uma apresentação de uma pesquisadora de História da Moda falando sobre seu mais recente trabalho (relevante, porém cadê a teoria pra EU poder fazer algo igual...) e uma hora disso aqui:




Um tio de boina roxa - que não é a mesma do filmeto - jogando lantejoulas pro alto e recitando seus poemas sobre Londres. UMA. HORA. DISSO.

Em teoria - leia o "teoria" em itálico, sublinhado e grifado, por favor - eu até entendo a (i)lógica da coisa. O cara cria poemas sobre a vida cotidiana de Londres, o que é uma forma de contextualizar o nosso tempo atual para gerações futuras. Ele narra através de poemas sobre "a tia no metrô usando casaco Chanel com cara de triste" ou "o cara andando em Oxford St. com cachecol Hermès". Ligando isso ao fato de que não há muitos textos históricos que relatam o dia-a-dia das pessoas, especialmente no que concerne a moda, até entendi o ponto do professor querer mostrar que nós podemos pegar fontes "inesperadas" para embasar nossa pesquisa que trata de história da moda.

A senhora que se apresentou antes do "poeta da boina" - seu nome é Elizabeth Wilson e, pra quem gosta de história da moda, vale a pena ler um livro dela porque todos a consideram *a* sumidade no tema - explicou como nossas percepções do dia-a-dia de tempos passados (anos 60, por exemplo) são totalmente distorcidas por vários motivos. Principalmente porque nossas "recontagens" - a maioria através de filmes - são feitas de uma forma em que todo mundo é homogêneo e tem/veste/usa coisas daquela época específica. E, pensando nos dias de hoje, dá pra ver como isso é falso. Nem todo mundo tem iPad, nem todo mundo tem o carro do ano, nem todo mundo tem TV em HD. Então, como é que todas as pessoas nos anos 60 usavam mini-saia e eram hippies que gostavam de Beatles?


livro que comprei e, do pouco que li, posso dizer UAU...


Mas... Maaaaaasssssssssss...... gente. Eu fiquei UMA HORA ouvindo um tio de boina roxa recitar poemas e jogar lantejoulas pro alto. Me chame de imbecil, mas o que isso realmente tem a ver com metodologias de pesquisa para história da moda?

Posso ser "careta", "old school", velha, conservadora, não entender arte, o que for. Mas a impressão que eu tive dessa aula foi que, não importa o lugar do mundo, não importa a universidade em que você esteja, não importam as pessoas que estão ao seu redor, se criarem um hype de alguma coisa sempre vai ter um monte de gente que vai achar *o-má-xi-mooooo!!!!!*. Porque né, de acordo com esse artigo aqui, o tio da boina tem como fãs os escritores britânicos JG Ballard e David Lodge, o crítico literário Terry Eagleton, os poetas David Gascoyne e Kathleen Raine, e gente do naipe de Bjork e Pete Doherty.

Você pode não conhecer os primeiros citados - e vou dizer que, do alto da minha ignorância, eu também não conheço. Agora, os últimos acredito que todo mundo conheça. Bjork, aquela cantora que vestiu um cisne pro Oscar, e Pete Doherty, mais conhecido por ser o ex-namorado da Kate Moss que só vivia drogado e bêbado por aí. Dois BASTIÕES DA SANIDADE né...

E aí eu volto à reflexão do hype. E como a gente, hoje em dia, se deixa levar por tão pouco. Se apareceu na Vogue, tô dentro. É tendência, comprei. Se a (sub-)celebridade X endossou, é porque é bom. Apareceu na TV, virou dogma. Se tá na sala de aula do mestrado, eu anoto e não questiono. Não estou incitando a revolução contra os métodos de ensino, mas eu acho que, cada vez mais, estamos nos acostumando e ensinando às criança não questionar nada. Talvez seja por isso que sejamos essa sociedade apática - não só no Brasil, mas no mundo como um todo. Aceitamos demais o que tentam nos vender como verdadeiro.

Não é só porque vi algo dentro de uma sala de aula de um mestrado considerado um dos melhores do mundo na área que eu vou aceitar e tentar achar razão na sandice. Isso mesmo, san-di-ce. Se fosse uma aula de "formas de expressão/inspiração", eu acharia ótimo. Mas aula de metodologias de pesquisa não é pra isso. É pra "coisa chata", é pra "decoreba". É coisa pra pegar livro e estudar de verdade - a famosa equação bunda x cadeira x hora que muitos estudantes detestam. E coisa que aparentemente os professores hype não tão muito a fim de lidar porque é "mainstream" - mas definitivamente vão cobrar de mim quando março chegar e eu tiver que entregar meu trabalho de 4000 palavras.

E isso, meus amigos, além de um desabafo (dos grandes) é um post sobre como o mundo REALMENTE funciona. Todo mundo acha esse tipo de sandice engraçadinha, jogar lantejoula pro alto é divertido, recitar poemas é forma de expressão - em suma, o famoso criar picadeiro pra palhaço sambar... -, mas na hora do vamos ver, o que o mundo vai cobrar de volta é trabalho na mão e dinheiro no bolso. Moda é lindo demais e inspirador, mas o que faz funcionar é o trabalho sério.

Se essa aula serviu pra alguma coisa, foi pra me mostrar o quanto mais quero trabalhar com o lado do "business" da moda. E o quão felizona eu tô em deixar os tios que recitam poemas enquanto jogam lantejoulas pro alto pros que se amarram num hype.


P.S.: E me deu uma paz de espírito TÃO maior em saber que a Elizabeth Wilson cursou Ciência Política na London School of Economics... pelo menos eu tô trilhando o mesmo caminho de quem eu realmente admiro. 


P.S.2: E, só pra esclarecer, não, não teve nada de teoria sobre metodologias de pesquisa nessa aula. Nem um segundinho.

Thursday, 13 October 2011

London College of Fashion - o primeiro editorial

Pois é... prometi e tô tentando cumprir. Escrevo depois de sabe-se lá quanto tempo, mas finalmente acho que a vida está se estabilizando. Finalmente. Já não sei nem mais há quanto tempo estou nessa "fase de transição". Nada contra transições mas eu já tava quase fazendo um jantar à luz de velas pra rotina pra ver se ela voltava pra casa...

Compartilho com vocês meu primeiro trabalho oficial para o mestrado, a confecção de um editorial para uma revista imaginária ou verdadeira. As instruções eram bem simples: poderia ser sobre qualquer assunto, com qualquer inspiração e para qualquer revista, desde que tivesse entre 6 a 8 páginas, uma página de apresentação e todas as coisas que se espera de um editorial (créditos, preços, lojas, essas coisinhas de diagramação). E ah, detalhe: teríamos uma semana pra fazer e entregar. Uma mera semaninha. Ou seja, logo na primeira semana já nos jogaram dentro da máquina de lavar pra ver quem conseguia segurar bem o turbilhão.

E eu não consegui. Eu entrei em PÂNICO. Pânico silencioso, porém pânico. Ajudei três amigos de turma com minha câmera - apesar de não ser a melhor fotógrafa do mundo, eu dou pro gasto - e só via o tempo passar, surtando em silêncio. Isso porque eu tive uma idéia que achei *brilhante*. E eu queria segui-la até o final. Eu sou meio assim, não desisto facilmente das coisas. Desapego não está no meu vocabulário; e olha que eu tenho tentado de todas as formas exercitá-lo, mas sempre vem uma nova forma dele se apresentar, e quando eu vejo lá tô eu me segurando que nem capitão de navio no mastro do barco afundando. Fazer o que.

A idéia original veio através da Paula (que um dia escreveu por aqui), que é fascinada por livros de bonecas de papel. Pra quem não conhece, eles são desse estilo aqui:




Você recorta as bonecas e as roupas, e pode trocar sempre que quiser. Parece bobinho, mas isso era o tipo de coisa que levava meninas à loucura no século 20...

Queria fazer um editorial inspirado nessa idéia, com as modelos como bonecas e as peças de roupa que selecionei ao redor, com as abinhas e pontilhados, mostrando direitinho a idéia das bonecas de papel. Só que o grande problema é que essa é uma idéia que confia pesadamente no meu expertise de Photoshop. O expertise que eu não tenho...

E eu juro que eu tentei. De todas as formas. Mas as imagens das roupas nunca ficavam 100% retas (queria elas chapadas como os desenhos das bonecas acima) porque eu não tinha como tirar as fotos de cima delas, flutuando... elas não "cabiam" direito nas modelos-bonecas, isso sem contar que eu demorei três dias só procurando por peças de roupa para contar uma estória, tirando fotos e pensando em como eu ia fazer com o bendito Photoshop. Pensei até em esquecer tudo e só desenhar, mas aí me deparei com várias imagens de moda já feitas nesse estilo, e eu queria ser original.

O resultado? Esse aqui:


 


 



 

Não era o que eu queria - queria colocar as roupas por cima das modelos (que, aliás, são amigas minhas de turma!) e fazer um editorial de verdade. Mas acabou que o que saiu de mim foi um trend report. É o vício do trabalho, misturada com a falta de capacidade/tempo de fazer a idéia que eu inicialmente queria.

Mas... ou melhor, *maaaaassssssssssssss*... o meu editorial foi escolhido entre os quatro melhores da turma. Eu JURO que achei que estava na mão do professor porque ele ia dizer "teve um que fugiu do tema, bla bla bla, whiskas sachet". Mas nem foi. Ele elogiou minha atenção aos detalhes (o tal do desapego se apresentando em outra forma...), o fato de que eu fui a única (e eu até me impressionei com isso) a realmente se preocupar com o propósito do projeto e colocar tudo o que uma revista colocaria num editorial seu, e particularmente adorou a idéia. Havia um amigo dele que é fotógrafo analisando os projetos também, e ele particularmente adorou o fato de que eu coloquei todas as roupas no tamanho certo para caber nas modelos. Como eu disse, quando eu me prendo a algo, não solto não...

E foi isso. Passei uma semana dos infernos, três dias mal dormidos e um (o do domingo para segunda, dia da entrega do trabalho) totalmente sem dormir. Mas valeu a pena. Só espero manter o pique.

O trabalho para a próxima segunda? Tenho que escrever um obituário para Anna Wintour. Cada um teve que sortear uma celebridade da moda, e eu tive essa sorte grande. Not. Mas, vamo que vamo. Depois conto o resultado.

 
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