Tuesday, 4 May 2010

modelos da Vuitton sem maquiagem nem Photoshop

Li faz pouco tempo sobre essas fotos no ótimo blog "de Chanel na laje" - aliás, AMEI o nome do blog! Essas são fotos das modelos que desfilaram para a Vuitton em ordem de entrada, e saíram na Love Magazine há mais ou menos um mês e meio atrás. Nelas, as modelos aparecem sem maquiagem nem cabelo arrumado.


modelos da Vuitton au naturel - clique na foto para ampliá-la e ver tudo nos mínimos detalhes...


Foi um "escândalo", com pessoas chamando as modelos de 'anoréxicas, doentes, drogadas, anêmicas", entre outras coisas. E, do outro lado, pessoas dizendo que "quem desdenha quer comprar"; ou seja, invejosos de primeira que queriam é estar nas fotinhos 3 por 4 da Vuitton.

Como eu gostei do post - e da polêmica - resolvi postar aqui a foto e também meu comentário no blog (obviamente, como ADORO falar, ele vai ser prolongadinho...).

Já havia mencionado sobre a volta da discussão sobre modelos magérrimas e a nossa percepção de beleza em um post na semana passada. Achei o post um pouco grande e com muitas referências (tem mil e um links de matérias e notinhas), e acho que não acabei por falar tudo que eu pensava a respeito.


a modelo é para ser mesmo um "cabide ambulante"?


Pra começar, acho um assunto extremamente delicado. É difícil julgar sem conhecer de perto uma pessoa. Dizer que ela é anoréxica ou drogada ou anêmica é o mesmo que dizer que, sei lá, a Deborah Secco é burra. Eu não a conheço pra dizer isso. Posso dizer que não concordo com decisões que ela tome na vida, mas chamá-la de burra é dizer que a conheço bem e que ela tem dificuldades de aprendizado.

E mais, é um assunto também histórico. É do ser humano querer o "inatingível". O famoso "sonhar não custa nada". Quando éramos todos pobres e passávamos fome - e isso não é muito longe não, só ir uns 100 anos pra trás na história - nosso ideal de beleza feminina era de mulheres pra lá de rechonchudas. É só ver nas mil e uma pinturas, esculturas e até mesmo em fotografias antigas. Ser gordo era sinal de prosperidade.

Hoje somos - pelo menos grande parte da sociedade ocidental e industrializada - bem alimentados e bem fornidos de tudo. Não passamos fome, não temos que trabalhar 16 horas num campo, não temos que fazer trabalhos braçais. A consequência natural disso é ter uma sociedade mais gorda. E, consequência direta do inatingível, do sonho de consumo é eleger o magro como o novo padrão estético.




E, dá pra ver a diferença entre nós, pessoas que tem coisas em abundância e tem um nível educacional mais elevado, com pessoas que não necessariamente tem tanto quanto nós nem tem tanta educação quanto nós. As "mulheres fruta" são um fenômeno claramente exaltado por uma parte do Brasil que infelizmente é mais desafortunada. Pra eles, ser 'carnuda' ainda é um ideal de beleza, muito mais que ser 'modelo'. E o mesmo acontece em diversos países da América Latina, África e Ásia, onde o ideal de beleza da maioria ainda é uma mulher mais cheinha.

Devo parar aqui pra dizer que não concordo DE JEITO NENHUM com modelos extremamente magras. Acho que elas sim passam uma imagem distorcida à sociedade. Não elas como indivíduos, mas o mercado da moda, do entretenimento e da publicidade como um todo. Uma coisa é usar uma pessoa mais magra porque a câmera é mais amigável e as roupas caem melhor. Outra coisa é usar um esqueleto que ainda vive porque ninguém avisou que era pra ele tá no caixão já há tempos. E, infelizmente, há meninas que são assim na indústria - assim como meninos, que fique bem claro. Mas é que com eles a coisa é mais leve.


alguém avisa a direção do São João Batista, por favor?


Agora, as fotos da Vuitton me passam muito mais a imagem de pessoas SUPER CANSADAS. Não de pessoas "anoréxicas, doentes, drogadas". Como disse no "de Chanel na Laje", as pessoas não param pra pensar que essas meninas trabalham duas vezes ao ano. Trabalho super intenso, que são as fashion weeks. Elas são seguidas, ao longo de um mês inteiro. E a Vuitton é uma das últimas a desfilar, na Paris Fashion Week, a última das semanas de moda. Ou seja, elas estão trabalhando já há um mês inteiro, sem parar.

E não é um trabalho de 9 às 6, com final de semana e direito a descanso. É um trabalho de mês inteiro de 14 a 16 horas por dia, todas fora de casa, viajando de um lado pro outro, correndo que nem loucas de um desfile pro outro, se maquiando e desmaquiando 6 vezes ao dia, vestindo mais de 30 roupas diferentes, fazendo provas, cabelos, socializando e indo à festas por obrigação contratual - ou até mesmo para se exibirem, afinal o trabalho delas é com sua imagem. Eu viajo muito a trabalho, e por isso mesmo sei que é HORRÍVEL ficar mais de 10 dias pulando de galho em galho. Não imagino o que seja passar pelo que elas passam, sinceramente.


é isso o mês inteiro, 16 horas por dia


Claro que não sou inocente; sei que muitas não são magérrimas por meios naturais e que drogas, álcool, fumo e muitas outras coisas são na maioria das vezes a forma como elas conseguem manter o keep walking da coisa. Mas eu já trabalhei no mercado financeiro, e ali também drogas, álcool e fumo eram o combustível pra muita gente. Afinal, uma pessoa que mora em NY e tem que operar no mercado asiático precisa de alguma forma para sobreviver uma vida indo dormir às 5 da manhã e acordando às 2 da tarde. E acredito que o mesmo deva acontecer em diversos outros ramos de trabalho; seguranças noturnos à médicos com plantão de 36 horas.

O que se vê em economia é que sendo maior o risco, maior o retorno. Muitas dessas meninas fazem isso conscientemente, sabendo que a profissão tem, em média, dez anos de duração; mas que, nesse tempo, ganharão milhões e mudarão suas vidas. Li em algum lugar - mas não me lembro agora onde - em que uma jornalista, conversando com uma modelo "em ascensão" falava exatamente isso: que as restrições eram enormes, que ela sim passava fome (especialmente em época de fashion weeks), mas que ela depois poderia fazer o que quisesse da vida, inclusive engordar.


adriana lima sem maquiagem


Ninguém tem pique pra aguentar esse ritmo de vida por muito tempo. Por isso mesmo que o retorno é alto. É que nem ser do BOPE. Ganha-se mais que um PM ou civil, mas dá de cara com muito mais bala na vida. Tá, é uma analogia meio barata - afinal, ninguém do BOPE ganha milhões - mas no relativo acho que dá pra entender.


meu ícone máximo, *the moss*, sem maquiagem


Ok, analogia melhor: um atleta, estilo Usain Bolt (o que corre mais rápido que sei lá o que) ou o César Cielo, só come barra de proteína e alimentos específcos nos dias que antecedem uma prova. Isso sem contar os meses e anos de treinamento, 8 horas por dia, dietas mil, jeitos X ou Y de aguentar o tranco que o corpo leva constantemente para aquela finalidade. Esses caras tampouco duram muito. Fazem o que amam por alguns anos, se forem os melhores ganham milhões, e se aposentam aos 30 e poucos anos de idade.


a modelo veterana helena christensen sem maquiagem


As caras nas fotos 3 por 4 são caras de meninas cansadas, sem maquiagem, que acabaram de acordar. Algumas com fome sim, outras pensando num cigarrinho (ou algo mais), mas ainda assim meninas normais. O nosso ideal de beleza tá cada vez mais irreal, num nível de perfeição que chega ao caricato. Essas peles lisinhas, essas pernas finíssimas, esses cabelos volumosos e sedosos que aparecem no Photoshop não são reais. Todos temos defeitos e qualidades, todos temos algo de lindo no nosso corpo e algo de mais feinho. Não tem jeito, é assim que Deus (ou mãe Natureza, ou Big Bang, coincidência metafísica, o que quer que você acredite) quis assim. Talvez pra ensinar alguma coisa, ou talvez só pra zoar com a nossa cara e rir dessa nossa busca por perfeição que não existe. Mas o resultado final é que somos todos iguais nas nossas diferenças. E não tem Photoshop que mude isso.


musão gisele sem maquiagem


P.S.: E, como diz meu marido (um filósofo de botequim de mão cheia, só perde pro mestre Romário) -  no final todo mundo é igual: faz xixi, cocô, solta pum, acorda com bafo de manhã e tira meleca. :)


P.S.2: Desculpem pelo assunto sério, pelas opiniões em excesso e pela polêmica. É o sangue da Política que não me deixa nunca. Prometo que o blog volta à programação normal no próximo post. :)

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